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segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Música brasileira está 'cafona' e virou esculhambação, diz líder do Skank

"O Samuel é muito caxias, ele é muito estudioso, quer fazer 40 ensaios, quase me mata." É assim que Samuel Rosa, 49, conta ser descrito por Lô Borges, 63, em entrevistas recentes para divulgar a parceria entre os dois músicos mineiros que resultou em shows e gravação de DVD.


E é essa fama de certinho que o líder do Skank anda querendo apagar. "Tô buscando menos compromisso, menos rigidez, levar menos a sério as coisas", diz ele ao repórter Joelmir Tavares após a passagem de som da primeira apresentação da turnê "Velocia" em Belo Horizonte, há alguns dias. "Quero ser o mau aluno. Vamos ver se consigo."


O cantor fala em se "permitir experimentar". Além da parceria com Lô, neste ano ele e os colegas de banda Henrique Portugal, Lelo Zaneti e Haroldo Ferretti assinaram a trilha sonora de um espetáculo do Grupo Corpo.


E o vocalista começa a pensar em compor para teatro e cinema. "Quero ir mais nessa direção, de ser um pouco mais irresponsável. Brincar com as possibilidades."


O Skank, que dali a poucas horas cantaria para 5.000 pessoas na casa de shows com lotação máxima, "já mostrou a que veio" após 24 anos de estrada, diz. Ainda sem sofrer impactos da crise na economia, segundo o músico, o grupo faz de seis a oito shows mensais "por opção". A "condição privilegiada" deixa o caminho livre para projetos individuais.


Com olhos arregalados, Samuel chama de "cafona" a música que domina as rádios comerciais, com a supremacia de ritmos como sertanejo, pagode e funk. "Sou um pouco filhote da geração dos anos 1980, que fazia uma música que chegava a todo mundo, mas não necessariamente descambava, avacalhava o negócio. Existia uma certa pretensão artística autoral que hoje se perdeu completamente."


A Legião Urbana era um exemplo, diz ele. "Caramba, o tomador de conta de carro cantava, a molecadinha, o cara do elevador, o gari. E não era necessariamente popularesco, assim, 'eu, você, dois filhos e um cachorro'", afirma, citando refrão de música do sertanejo Luan Santana.


À moda mineira, reconhece ser "um pouco perigoso" fazer as críticas "porque fica parecendo pretensão". "Mas acho que chega uma hora que você tem que colocar os pingos nos is sim, você tem que ser um pouco politicamente incorreto. Tá muito ruim mesmo. Será que só eu que tô percebendo a esculhambação?"


A música "Esquecimento", do disco "Velocia", entrou há algumas semanas no ranking das mais tocadas no Rio e em SP. Nos anos 1990, a banda ultrapassava a marca do milhão de discos vendidos. "Não era só a gente. Os Titãs tavam vendendo muito, os Paralamas, Lulu Santos, Cidade Negra... Era uma maravilha."


A indústria musical mudou, o meio digital cresceu. E veio o "recuo do pop rock", nas palavras do cantor, que levanta hipóteses para as causas, sem encontrar respostas.


"Ah, beleza, pop rock é a coisa mais popular do Brasil, vende milhões... Achavam que ia ficar aquilo mesmo, o tempo todo? Onde é que quem faz, grava, produz errou? Acho que todo mundo ficou muito sossegado."


Sossego. Foi o que Samuel buscou quando decidiu não mais declarar voto publicamente. Ele, que já apoiou Lula e Aécio Neves, ficou quieto na eleição de 2014. Os parceiros Henrique e Haroldo fizeram campanha para o conterrâneo candidato a presidente.


"É complicado porque parece que, quando você chancela um candidato, você está ali fazendo reuniões com ele, tomando decisões", diz o vocalista. "Um dia eu apoiei o Lula. Quando estourou o mensalão, também fiquei muito decepcionado. Mas eu não tinha como saber."


Revela "certo receio de ser apedrejado" ao analisar o país: "Tenho idade suficiente para ver que o Brasil mudou muito de 20 anos para cá. Não que eu esteja satisfeito, mas tivemos ganhos. Algumas coisas melhoraram muito. E não só para nós que somos de uma classe privilegiada, mas também para quem nunca teve a oportunidade de ir à escola, de ter saúde".


E segue: "Eu não acredito que a corrupção tenha começado de 15 anos para cá. A nossa corrupção é genética", diz, enfático. "Agora, nunca se falou tanto, condenou tanta gente, tanta gente na cadeia, como tá acontecendo agora. Não quero ficar entrando nesse coro de que tá tudo uma merda, porque tem também gente que vislumbrava possibilidade de ser muito mais rico do que é e que entra de gaiato aí nessa história."


Diz ser contra a saída de Dilma Rousseff. "Não seria positivo. Eu manteria a Dilma até acabar o mandato dela. É uma instituição democrática. E não pesa contra ela nada, de que roubou. Não acho que seja um desastre. Ela pode estar no time, mas talvez não fosse a faixa de capitão para ela, entendeu?"


Usa mais uma vez o futebol ao comentar sua declaração no Rock in Rio de 2013, quando disse que "maconha é proibido, mas mensalão pode fazer de novo, né?". Para ele, houve "uma leitura míope" da frase. "Entenderam aquilo como se fosse uma coisa partidária. 'Ah, então você tá puto com o PT, você é PSDB...' Para, eu sou Cruzeiro! Eu sou Cruzeiro [risos]! É o seguinte: se eu falo mal do Flamengo, não significa que eu sou Vasco."


"Talvez os pais dos amigos do meu filho possam implicar", reflete, ao defender a descriminalização da maconha. "Drogas muito mais nocivas são liberadas. Tenho isenção para falar, porque não uso. Claro que já experimentei. Tenho amigos que usam, enfim. Mas tenho amigos que bebem muito também, e eu bebo [gargalha]. Mas não muito."


Já à noite, pouco antes do início do show, Samuel ignora as bebidas disponíveis no camarim, perto de uma cesta com pães de queijo. Como o show é na cidade onde eles moram, parentes e amigos dos músicos circulam pelos bastidores –a turnê chega a São Paulo no próximo domingo (4), no Tom Brasil.


O vocalista fica sentado, com um violão. Toca e canta "Wonderwall", do Oasis. Sua filha Ana, 13 –ele também é pai de Juliano, 16– está num sofá em frente. Ela e os outros adolescentes do grupo parecem mais interessados em bater papo e mexer no celular. "A galera aqui nem tá ligando, tá de costas, olha a indiferença", diverte-se. "É bom pra sentir o tamanho da nossa irrelevância [risos]. Nem parece que tem um pessoal ali fora esperando a gente..."


A multidão que aguarda a banda ainda ouve as músicas selecionadas por um DJ. Uma delas: "Domingo de Manhã", da dupla sertaneja Marcos & Belutti, a canção mais tocada nas rádios brasileiras no ano passado.


Fonte: Coluna Mônica Bergamo/Folha.com

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