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segunda-feira, 28 de agosto de 2017

TEXTO DE FRUIÇÃO -- O par de sapatos – Pierre Gripari

TEXTO DE FRUIÇÃO

TEXTO DE FRUIÇÃO --
O par de sapatos – Pierre Gripari

Era uma vez dois sapatos casados, que formavam um par. O sapato direito, que era homem, chamava-se Nicolau; o esquerdo, que era mulher, chamava-se Tina.


Os dois moravam numa caixa de papelão muito bonita, enrolados em papel de seda. Sentiam-se muito felizes e tinha a esperança de que aquilo durasse para sempre.

Mas certa manhã uma vendedora tirou o par de sapatos da caixa, para uma senhora experimentar. A mulher os calçou, deu alguns passos, achou que estavam ótimos e disse:

___ Vou levar esses.

___ Quer que eu embrulhe? Perguntou a vendedora.

___ Não precisa – disse a mulher – vou calçada com eles.

Ela pagou e saiu, com os sapatos novos no pé. Foi assim que Nicolau e Tina andaram um dia inteiro sem se verem. Só foram se encontrar à noite, dentro de um armário escuro.

___ É você Tina?

___ Sou eu, sim, Nicolau.

___ Ah, que felicidades! Pensei que tivesse perdido você!

___ Eu também. Mas onde você estava?

___ Eu? No pé direito.

___ Agora eu estou entendendo. Sempre que você estava na frente, eu estava atrás, e quando você estava atrás eu estava na frente. Por isso a gente não conseguia se ver.

___ E vai ser essa vida todos os dias? – Perguntou Tina.

___ Acho que sim!

___ Mas que horrível! Ficar o dia inteiro sem você, meu amor! Não vou me acostumar nunca, Nicolau!

___ Tive uma ideia – Disse Nicolau. _ Já que eu estou sempre à direita e você sempre à esquerda, quando eu for para frente vou me desviar um pouquinho para seu lado. Assim a gente se vê. Combinado?

___ Combinado!

E assim fez Nicolau. No dia seguinte a dona dos sapatos não conseguia dar três passos sem que o pé direito se enrolasse, e plaf! Lá ia ela para o chão.

Naquele mesmo dia ela foi consultar o médico, muito preocupada.

___ Doutor, não sei o que tenho. Fico toda hora tropeçando em mim mesma.

___ Tropeçando na senhora mesma?

___ Isso mesmo doutor! A cada passo, meu pé direito se enrosca no me salto esquerdo e eu tombo!

___ Isso é muito grave – disse o médico. – Se continuar assim, vamos ter que cortar seu pé direito. Aqui está a receita: são dez mil francos de remédio. A senhora me deve dois mil francos de consulta, e volte amanhã.

Aquela noite, dentro do armário, a Tina perguntou ao Nicolau:

___ Você ouviu o que o médico disse?

___ Ouvi, sim.

___ Que horror! Se cortarem o pé direito da mulher, ela vai jogar você no lixo e nós vamos ficar separados para sempre! Temos que fazer alguma coisa!

___ Mas o quê?

___ Tive uma ideia: já que eu fico à esquerda, amanhã sou eu que vou desviar um pouco para a direita cada vez que der um passo à frente. Combinado?

E assim fez a Tina. Então durante todo o segundo dia, o pé esquerdo é que se enroscava toda hora no salto direito e plaf! A coitada da mulher ia para o chão. Cada vez mais preocupada, ela voltou ao médico.

___ Doutor, estou cada vez pior. Agora é o pé esquerdo que se enrosca no salto direito.

___ Cada vez mais grave – disse o médico. _ Se continuar assim, vamos ter que cortar os dois pés! Aqui está mais uma receita. São vinte francos de remédio. A senhora me deve mil francos de consulta, e não se esqueça de voltar amanhã.

Aquela noite Nicolau perguntou a Tina:

___ Você ouviu?

___ Ouvi.

___ E se cortaremos dois pés da mulher, o que será de nós?

___ Não quero nem pensa!

___ Mas eu te amo, Tina!

___ Eu também te amo, Nicolau!

___ Não quero me separar de você, nunca!

___ Eu também não, nunca!

Estavam ali, conversando no escuro, sem saber que a dona deles estava andando no corredor de lá para cá, de chinelo, sem conseguir dormir, por causa do que o médico tinha dito. Ao passar pela porta do armário ela ouviu tudo e, como era muito inteligente, entendeu tudo.

___ Então é isso – pensou a mulher. – Não estou doente. Meus sapatos é que se amam! Que coisa linda!

Ela jogou no lixo os trinta mil francos de remédio que tinha comprado e, no dia seguinte, disse a faxineira:

___ Está vendo este par de sapatos? Não vou mais usá-los, mas quero que fique com ele. Quero que os dois pés estejam sempre bem limpos, engraxados e lustrosos. E lembre-se de uma coisa: nunca separe um do outro!

Assim que ficou sozinha, a faxineira pensou:

___ A patroa está louca! Guardar esses sapatos sem usar! Daqui uns quinze dias, quando ela tiver esquecido, vou pegá-los pra mim!

Quinze dias depois, ela pegou os sapatos e os calço, mas logo começou a tropeçar. Um dia, na escada, quando ela estava descendo com a lata de lixo, Nicolau e Tina resolveram se beijar e badabum! Vlang! Bong! A faxineira caiu sentada, com um monte de lixo na cabeça e uma casca de batata pendurada na testa, como se fosse um cacho de cabelo.

___ Esses sapatos são mágicos – ela pensou. – Não vou mais calçá-los. Vou dá-los para minha sobrinha, que é manca!

E foi o que ela fez. A sobrinha, que era manca mesma, passava o dia todo sentada, com os pés juntos. Quando por acaso andava um pouco, era devagar que nem dava pra tropeçar. Os sapatos estavam felizes porque, mesmo durante o dia, ficam quase sempre um ao lado do outro.

Essa situação durou um bom tempo. Infelizmente, como a sobrinha era manca, gastava mis um pé de sapato o que o outro.

Uma noite, a Tina disse ao Nicolau:

___ Estou sentindo que a minha sola está ficando fininha, logo vou furar!

___ Não faça isso! – disse Nicolau. _ Se jogarem a gente fora, vamos ficar separados outra vez!

___ Eu sei. –disse Tina. _ Mas o que você quer que eu faça? Não posso impedir de envelhecer!

De fato, oito dias depois a sola de Tina furou. A manca comprou um par de sapatos novos e jogou Tina e Nicolau na lata de lixo.

___ O que vai ser de nós? – perguntou Nicolau.

___ Não sei. _ disse Tina. - Eu só queria ter certeza de que nunca vou ficar sem você!

___ Chegue mais perto - falou Nicolau – e segure o meu cordão com o seu. Assim a gente fica junto.

Assim foi. Foram juntos para a lata de lixo, foram juntos para o caminhão de lixo e foram juntos, até o dia em que foram encontrados por um menino e uma menina.

___ Olha só! Esses sapatos! Estão de braço dado!

___ É que eles são casados – disse a menina.

___ Bom, já que eles são casados, vão fazer a viagem e lua de mel!

O menino pegou os sapatos e pregou um ao lado do outro, numa tábua. Depois pôs a tábua no rio e ela foi descendo, carregada pela natureza. Enquanto ela ia se afastando, a menina acenava com o lenço e gritava:

___Adeus, sapatos, e boa viagem!

Foi assim que Nicolau e Tina, que não esperava mais nada da vida. Tiveram uma viagem linda de lua de mel.





Contos da Rua Brocá –Editora Martins Fontes.

fonte: Amiga da Educação

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